Ao longo dos últimos anos o Brasil tem vivido uma experiência nova, a
do pleno emprego. Não é exatamente correto, do ponto de vista da
medição técnica, mas é o que se sente nas empresas. A busca de
profissionais necessários tornou-se cada vez mais difícil e a perda de
bons funcionários para novos concorrentes tornou-se mais frequente que
no passado.
O risco de perda de bons profissionais para
concorrentes diretos era algo esporádico, geralmente limitado a posições
e pessoas muito específicas. Mas depois de sucessivas crises, a s
empresas passaram a operar de modo mais "lean", como menos "gordura" que
no passado, significando menos reservas em termos de recursos humanos.
O
fenômeno pode ser entendido como sendo resultado do foco no curto prazo
das empresas, pressionadas por busca de competitividade através de
custos mais baixos. Significa privilegiar as necessidades de curto
prazo, encurtando o seu horizonte de planejamento e investimento na
organização. "Resolvo o problema quando acontecer, e como puder", pode
ser a tradução literal da estratégia.
O crescimento econômico
acima do esperado, a maior resiliência do Brasil à crise anterior e a
entrada de inúmeros novos concorrentes fez com que a disputa por
profissionais se tornasse muito mais séria que a esperada.
As
oportunidades de mobilidade com promoções cresceram muito e pode-se
observar até nos jornais e revistas, através das mudanças de executivos
de uma empresa para outra. Nos níveis intermediários de técnicos, também
as empresas são pressionadas pelo mercado.
Profissionais
experientes que deixaram as empresas há alguns anos e se tornaram
"consultores" estão retornando às empresas. Seja como um "consultor
fixo" ou re-contratados pelas novas empresas no mercado, estão voltando
ao mercado com seu conhecimento e principalmente com sua experiência.
E
para os jovens? As oportunidades são melhores também, pois há um
absoluta falta de disponibilidade de pessoas capacitadas para as
empresas.
Mas as empresas já não exageram nas contratações como
antigamente. Buscam definir as equipes necessárias e as contratações
realizadas são observadas com mais cuidado.
Há alguns anos,
quando jovens profissionais perguntavam-me se deveriam aproveitar a
oportunidade e usar a mobilidade para alavancar o seu desenvolvimento,
eu costumava recomendar que aproveitassem a oportunidade. Pois ainda
haveria tempo para correções, se algo não funcionasse bem.
Mas
agora, considerando-se que teremos diante de nós um período mais estável
em termos de crescimento, à sombra das crises na Europa, na América do
norte e até mesmo de um crescimento menor na Ásia, pode ser que a
recomendação já tenha que ser diferente.
Talvez a nova pergunta seja: - Tenho oportunidades, mas seria melhor pensar em permanência?
A resposta pode vir através de uma outra pergunta: - Você está aprendendo no seu atual trabalho?
Pode
ser o momento de começar a valorizar a solidez da sua empresa, a
estrutura que já conseguiu atravessar outras crises, os investimentos
realizados há muitos anos que podem ser o combustível para seguir
inovando mesmo durante as crises.
A realidade do mercado não
costuma perdoar ninguém! Todos pagamos pelos erros que cometemos no
mercado e somos premiados pelos esforços corretos realizados ao longo
dos anos. Empresas líderes costumam resistir melhor nos momentos mais
difíceis e seus profissionais não interrompem o desenvolvimento das suas
carreiras.
Pode acontecer que estes profissionais sejam os
melhores preparados na retomada, pois seguiram podendo investir nas suas
carreiras. Isto não é novo! Já vimos acontecer muitas vezes e temos
colegas nos dois lados da situação, com diferenças cruéis criadas ao
longo dos anos.
Como nos negócios, o estabelecimento de uma
estratégia vencedora começa com a leitura correta do contexto e do
ambiente. Acho que está na hora de começar a observar com mais cuidado o
contexto para mudanças drásticas e avaliar melhor o ambiente
profissional para uma continuidade do seu desenvolvimento.
Elaborar
este tipo de leitura específica para o seu setor, antes dos demais
também é um importante fator competitivo, que pode ser aplicado à sua
própria vida profissional.
As garantias naturais de um mercado
aquecido podem estar perdendo valor e passa a ser importante buscar
garantias específicas para as mudanças.
Escrito por Yoshio Kawakami
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