Por mais que estejamos munidos de pesquisas, algumas bem afinadas, já não sabemos mais com quem estamos lidando e qual o comportamento esperado em cada segmento. Quem, agora, manda nas regras do jogo? O poder se fragmentou e mudou de poucas para muitas mãos: quem mandava não manda mais, quem acha que manda não manda nada e quem vai mandar ainda não assumiu o seu devido lugar. Não estou falando de políticos, mas das forças que regem o comportamento das massas.
Para comunicadores, é uma situação de extrema delicadeza: miramos no alvo e a vista embaça. Nada está bem claro. O recente exemplo das eleições municipais mostrou a nova classe média assustando os conservadores. A tempestade passou, mas o próximo pleito poderá ser um furacão de categoria mais forte.
Sabemos que, para falar com essa nova classe social, devemos direcionar o recado para as mulheres, pois são elas que decidem. Por outro lado, a presença do computador e suas redes sociais nas salas de milhares de residências, nas escolas e nas lan houses cria outra situação: a dos jovens conectados. Em tempo real, eles trocam ideias, preocupações e fazem perguntas impertinentes. Notícias se espalham em velocidade espantosa, eles fazem parte de um novo poder e até derrubam governos. Jovens empresários – entre 18 e no máximo 30 anos – se reúnem em comunidades de convivência na forma de HUBs ou Aldeias e trocam informações ao vivo e em forma virtual. Trabalham em mundos à parte, jamais sonhados pelos mais velhos.
Ao conversar com o diretor de uma ONG ambiental, perguntei: “Com quem estamos lidando neste momento? Dá para fazer o trabalho de vocês, daqui para a frente, sem saber exatamente o que os diferentes setores da sociedade pensam sobre ecologia? O que vocês fazem? Qual o sentimento da população em relação à sua causa?” Tudo mudou, e o que valia há 10 ou 20 anos não vale mais. Ao mesmo tempo em que profissões perdem significados e alguns empregos – outrora sólidos – deixam de existir, novas habilidades e ofícios são incorporados. Para algumas, não há nem sequer instrutores qualificados, pois nem eles sabem o que devem ensinar.
Viradas de rumo sempre aconteceram, mas agora elas se processam com mais rapidez e as informações mais importantes circulam difusas e disfarçadas, difíceis de ser percebidas. Navegamos em meio a um denso nevoeiro e com bússola descalibrada. Se o comunicador não souber decodificar essas informações, caminhará para o lado errado e não conseguirá realizar o seu trabalho.
As relações pais e filhos, patrões e empregados, empresas e clientes, governo e povo, jovens e velhos mudaram e não na forma das claras rupturas como no passado: a ascensão dos baby boomers (1946-1964), a rebeldia da juventude transviada (1950-1964), a invenção da pílula anticoncepcional (1960-1970) ou a queda do muro de Berlim e o fim da Guerra Fria (1970-1990). Desta vez as mudanças são amplas e globalizadas. A possibilidade de postar comentários em blogs e páginas de redes sociais permite o falar mal, o falar bem, questionar, debater e arregimentar causas.
Saber com quem estamos falando ficou difícil. É necessário conversar muito com aqueles que estudam a sério o comportamento das massas, analisar e reanalisar pesquisas e o que dizem as boas colunas e editoriais de opinião dos jornais, tevês e rádios. Participar de debates, assistir a palestras como as do TED e mergulhar de cabeça em bons livros. Se vai adiantar alguma coisa, não sei. Como diz o velho caboclo: “O mundo ‘tá dimudado’”.
Escrito por Eloi Zanetti
Para contratar este palestrante: (11) 2221-8406 ou
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