Dia destes, em um voo durante a madrugada, uma senhora sentada ao meu
lado, na poltrona central, tentava acomodar com a cabeça apoiada no
colo seu filho adormecido de pouco mais de três anos, que acabara de
passar por uma cirurgia cardíaca. O quadro era de grande desconforto.
Por isso, decidi ceder meu lugar no corredor a ela, deslocando-me para
um assento localizado na saída de emergência.
A comissária
imediatamente me interpelou, informando que aquele assento era exclusivo
para quem havia “adquirido o produto no check-in”, de modo que eu
deveria retornar ao lugar de origem. Diante de minha explicação sobre o
porquê de eu ocupar aquela poltrona naquele momento, ela emendou: “Estou
apenas seguindo ordens”.
Em outra ocasião, hospedei-me em um
hotel luxuoso reservado pela empresa contratante, com um valor de diária
exorbitante para quem apenas repousaria por algumas poucas horas. Assim
que adentrei o quarto, busquei o cardápio do room service, a fim de
fazer uma refeição após tantas horas de voo. Porém, o atendente na
cozinha disse-me que não poderia acatar meu pedido, pois o serviço havia
encerrado à meia-noite. Detalhe: o relógio marcava meia-noite e nove!
A
mediocridade é uma das maiores chagas do mundo moderno. Ela representa
estatisticamente a porção central da distribuição normal, ou curva de
Gauss, segundo a qual cerca de 70% dos eventos observáveis encontram-se
dentro da média com mais ou menos um desvio padrão.
É medíocre o
aluno que se esforça apenas para obter a nota mínima exigida para passar
de ano. É medíocre o estudante de pós-graduação que comparece às aulas
com desinteresse, pois seu único objetivo é alcançar o certificado de
conclusão do curso para rechear seu currículo. É medíocre o trabalhador
que lacônica e covardemente apenas cumpre ordens, destituindo-se de um
mínimo de bom senso e flexibilidade, como nos dois casos acima
relatados.
Olhando para os extremos da curva de Gauss,
identificamos dois grupos importantes de variáveis, muito acima ou muito
abaixo da média, e que por esta característica de excepcionalidade
impactam de forma decisiva os rumos da história. É o que Nassim Taleb
denomina de “Extremistão”, em sua obra A lógica do cisne negro – O
impacto do altamente improvável.
No mundo da gestão de pessoas,
temos do lado direito da curva os grandes líderes e realizadores,
aqueles que se destacam pela proatividade e elevada resiliência. Já do
lado esquerdo, encontramos os estúpidos, dotados de falta de
discernimento e sensibilidade.
O maior desafio de um gestor,
líder ou educador, em qualquer cenário ou âmbito, é distorcer a curva de
Gauss, trazendo os tolos ao menos para a média – ou livrando-se deles,
quando possível – e estimulando os medíocres a abandonarem a zona de
conforto para se tornarem pessoas especiais, comprometidas e engajadas,
capazes de fazer não apenas o possível, mas de entregarem o seu melhor.
Agora eu lhe pergunto: em que ponto da curva você se encontra?
Escrfito por Tom Coelho
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