A diferença de preços do Brasil com o resto do mundo é
impressionante. Do restaurante aos eletrônicos, quase tudo é mais caro
aqui.
Razões não faltam, começando pelos impostos. Uma das cargas
tributárias mais elevadas do planeta, particularmente concentrada sobre
consumo e produção, encarece tudo que é feito e comprado aqui.
Impostos
não explicam todas as distorções. Também as margens de lucros são mais
elevadas. A esquerda culpa a ganância dos empresários pelas gordas
margens. A explicação está equivocada. Sim, empresários querem cobrar
mais por seus produtos e serviços. Se você pudesse dobrar seu salário,
não dobraria?
A pergunta é: por que conseguem cobrar mais aqui?
Por que aceitamos pagar mais? Apesar dos avanços desde 1994,
adistribuição de renda no Brasil ainda é das piores. Grande concentração
gera uma valorização de status nas compras. Demarcam-se as diferenças
através do consumo, mesmo que para isso tenha-se que pagar mais. Comprar
determinado carro, celular ou iogurte “separa” seus consumidores das
classes sociais “abaixo” deles.
A explicação mais importante,
porém, não é esta. A baixa competição, a dificuldade de se fazer negócio
e o risco mais elevado da atividade empresarial pesam mais.
Burocracia
absurda, corrupção, carga tributária elevada, regime tributário
complexo, infraestrutura ruim, mão de obra cara e despreparada
dificultam a vida das empresas, aumentando o risco de seus
investimentos. Com risco maior, empresários reduzem investimentos e, por
consequência, a competição. Com menos competição, inclusive com
importados – o Brasil é o país com menor taxa de importação de produtos e
serviços no planeta – é possível subir preços e aumentar margens de
lucro.
Nos últimos anos, as margens no país caíram. Em muitos
setores, empresas não conseguiam repassar integralmente aumentos de
custos de mão de obra e matéria primas aos preços porque uma competição
crescente não permitiu.
A competição aumentou porque a crise no
mundo desenvolvido estimulou as empresas a buscarem os grandes mercados
emergentes. Somou-se a isso um forte crescimento do consumo no país
impulsionado pelo aumento da renda e do crédito. Com mercado maior,
cresceram os investimentos produtivos e a competição, reduzindo as
margens de lucro. Até aí, ótimo.
Acontece que nos últimos
trimestres, tal movimento se reverteu. Desvalorizar o Real encareceu
importações, inclusive de máquinas e equipamentos, diminuindo a
competição e reduzindo investimentos no país.
Além disso, ao
atacar bancos e empresas de energia elétrica para reduzir rapidamente
suas margens de lucro, o governo aumentou o risco dos negócios nesses e
em outros setores, que temem medidas semelhantes. Com rentabilidade
menor e riscos maiores, investimentos caíram, o que, através da redução
da competição, vai aumentar margens de lucros e encarecer preços nos
próximos anos. Em economia, às vezes os resultados são o inverso das
intenções.
Antes de usar os bancos estatais para pressionar os
demais a reduzirem juros – um objetivo louvável, buscado de forma
ineficiente – a lucratividade média do setor bancário brasileiro era a
segunda mais baixa das Américas, atrás apenas dos EUA, ao contrário do
que supõe a maioria. Venezuela e Argentina, onde os governos mais
“perseguem” bancos, eram os países com os bancos mais lucrativos.
Para
reduzir margens e preços, o governo precisa eliminar a burocracia,
simplificar a legislação, estimular a competição, evitar o
protecionismo, reduzir impostos, inclusive sobre importados e incentivar
investimentos. O benefício será dos consumidores.
Escrito por Ricardo Amorim
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