Você certamente acompanhou a visita da jornalista cubana Yaoni
Sánchez ao Brasil, não? Em vários momentos uma turma de “democratas”
simplesmente impediu, aos gritos e ameaças, que ela fizesse aquilo que
veio fazer: conversar sobre o regime cubano. É evidente que as
demonstrações foram orquestradas, com transporte, cachê e lanchinho para
os manifestantes, que nem mesmo sabiam o nome da moça. Para quem
comandou os trogloditas, Yoani não pode manifestar seu pensamento. Ela
tem que ser calada.
Existe um livro precioso chamado A História
da Liberdade de Pensamento, escrito em 1914 pelo historiador e filólogo
irlandês John Bagnel Bury, que explica na introdução a razão de, para
algumas pessoas, ser tão difícil aceitar a liberdade de expressão:
“O
cérebro médio é naturalmente preguiçoso e tende sempre a escolher o
caminho por onde encontra menor resistência. O mundo mental do homem
médio consiste de credos que ele aceitou sem questionar, e aos quais ele
está firmemente fixado. Ele é instintivamente hostil a qualquer coisa
que ameaçar a estabilidade do mundo que lhe é familiar. Uma nova ideia,
inconsistente com seus credos, torna necessário rearranjar a mente, num
processo trabalhoso que requer um gasto doloroso de energia mental. Para
o homem médio e seus amigos, que formam a grande maioria, novas ideias e
opiniões que causem dúvidas nos credos e instituições estabelecidos,
parecem malignas, pois são desagradáveis.”
Portanto, se eu sou
esse homem médio e tenho algum tipo de poder, fico tentado a não
permitir que ideias malignas e desagradáveis sejam expressas. E, para
isso, quebro braços, esmurro e ameaço. Ou posso lançar mão do conceito
do “bem comum”, “da proteção aos mais fracos, pobres e desamparados”,
“da sobrevivência da humanidade” e tantos outros argumentos lindos,
imbatíveis, que se tornam pretextos para verdadeiros crimes contra as
liberdades individuais.
Liberdade de pensamento quer dizer muito
pouco se não for acompanhada pela liberdade de expressão, que é uma
coisa muito diferente. Ninguém muda o mundo só com pensamentos, eles
precisam ser expostos, compartilhados, discutidos e colocados em ação. E
estamos, ao menos nós que vivemos em sociedades que podem ser
consideradas democráticas, tão acostumados com a liberdade de pensamento
e expressão que nos esquecemos que, para chegar até este ponto, muito
sangue correu. Foram séculos e séculos persuadindo os poderosos de que
manifestar uma opinião – e discuti-la livremente – era uma boa coisa.
Não
importa se você concorda ou não com ela, acho que o grande mérito da
visita de Yoani Sánchez ao Brasil foi escancarar o perigo dos
intolerantes que andam entre nós, e que são de dois tipos.
Primeiro
as marionetes, que a gente saca logo de cara. São prostitutas morais:
alugam a mente e o corpo para quem pagar mais. Estão sempre irritados,
gritam, ameaçam, apelam para a violência e se orgulham de sua ignorância
e estupidez. Esses ogros têm que ser tratados de igual para igual, pois
querem calar sua boca na porrada.
Mas os mais perigosos são os
que manipulam as marionetes: os de fala mansa, simpáticos, repletos de
boas intenções, argumentos pomposos e propostas para salvar a
humanidade. Parecem santos.
Esses, mais que sua boca, querem calar sua mente.
Não deixe.
Escrito por Luciano Pires
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