segunda-feira, 17 de junho de 2013

Compe-tititi-vidade

Ajudei a conduzir esta semana o Seminário Transpodata em Caxias do Sul, quando alguns competentes especialistas discutiram o sistema de transporte de cargas no Brasil, especialmente em relação ao agronegócio. Quando recebemos informações diretamente de quem trabalha com os dados reais, sem o filtro da imprensa, sem o “ouvi dizer”, sem o achismo e a manipulação dos interesses ideológicos, temos a real dimensão dos problemas e oportunidades do Brasil. E vou dizer uma coisa: é assustador.

Numa das apresentações, Antônio da Luz, Economista Chefe do Sistema FARSUL – Federação da Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul, apresentou uma comparação dos custos de frete no Brasil e nos Estados Unidos.

Transportar soja pelos 2.700 km que ligam o estado de Iowa ao porto de Nova Orleans, custa U$ 0,03 por tonelada por km. Já o custo do transporte da soja pelos 2.337 km que ligam a região de Sorriso, no Mato Grosso, ao porto de Paranaguá, é de U$ 0,06 ton/km, 100% mais caro! Ah, mas e se for até o porto de Santos, que é mais perto? São 2.204 km e o custo cai para U$ 0,05 ton/km, ainda assim 67% acima dos EUA. Mas o queixo da platéia caiu mesmo quando ele fez a comparação com o custo do transporte pelos 533 km que separam a região de Cruz Alta, no Rio Grande do Sul, do porto de Rio Grande, no mesmo estado: U$ 0,13 por ton/km. Inacreditáveis 333% mais caros que nos EUA, apesar da distância ser 70% menor!

Sacou? O custo para transportar cada tonelada por quilômetro pode ser 67%, 100% e 333% mais caro no Brasil do que nos EUA. O Brasil tem compe-tititi-vidade...

Bem, isso não é propriamente uma novidade, mas quando os números aparecem na cara da gente, incontestáveis, não há como evitar o choque.

No final do evento o Eng. Luiz Carlos Ribeiro, coordenador geral de planejamento do Ministério dos Transportes, mostrou o Programa de Investimentos em Logística para Rodovias e Ferrovias no Brasil. Serão 133 bilhões de reais investidos em 35 anos, 60% dos quais nos próximos cinco anos, sem considerar o Trem de Alta Velocidade. Tive chance de jantar com ele e ouvir suas preocupações e cuidados para desenvolver um projeto que atenda às carências imediatas e futuras do Brasil.

Num extremo os técnicos usuários do sistema, gente inteligente que tem as informações necessárias, os levantamentos, as pesquisas, as propostas, e que vive na prática os problemas de seus segmentos. No outro extremo, os técnicos do governo, que cuidam do planejamento, tentando contemplar a todos numa missão aparentemente impossível. Dois extremos ocupados por gente que quer fazer. Mas no meio... os políticos, que detêm o poder de escolha entre partir para a execução ou permanecer no tititi...

Nenhum outro país tem o potencial que o Brasil tem para crescimento a partir da resolução de seus problemas logísticos. Nenhum outro país tem recursos, terra e água como nós. Mas poucos têm a mesma incapacidade de transformar esse potencial em realidade.

Alô Brasil! Chega de iniciativa. Precisamos de acabativa.

Escrito por Luciano Pires
Para contratar este palestrante: (11) 2221-8406 ou



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