quinta-feira, 18 de setembro de 2014

Cerca de 300 pessoas, todos integrantes da equipes de vendas de uma multinacional, reuniram-se para uma grande convenção mês passado. No auditório de um resort em Cancún, no México, o convidado mais esperado era um pernambucano nada entendido do assunto que o público ali presente dominava: equipamentos cirúrgicos. Durante quase duas horas, o surfista Carlos Burlediscorreu sobre as dificuldades que enfrentou na carreira, a busca por qualidade de vida, e lembrou de alguns momentos de superação, em relatos sempre intercalados por imagens dos duelos que ele trava com as maiores ondas da Terra. Para quem passou grande parte da vida em cima de uma prancha e vestindo apenas bermuda tactel, Burle surpreende nas palestras que tem dado com cada vez mais frequência.
— Não tenho controle de nada dentro do meu local de trabalho. Posso bater a cabeça numa pedra ou, de repente, me deparar com um tubarão. Tenho que gerenciar riscos, ser rápido na hora de tomar decisões e acho que esse é o tipo de experiência que funciona muito bem no mundo corporativo — acredita Burle, de 46 anos.
Fora d’água, assume também o papel de empresário. É sócio de uma fábrica de molhos, de uma agência de comunicação, de uma escolinha de surfe, tem um programa de TV e ainda cumpre uma série de compromissos dos patrocinadores. No mar, coleciona títulos e feitos para muito poucos. Conquistou duas vezes o campeonato mundial de surfe de ondas gigantes e agora é o único brasileiro na disputa pelo prêmio de maior onda da temporada, uma parede d’água que pode ter chegado a 35 metros, em Nazaré, Portugal, em outubro do ano passado. Longe da praia, no entanto, ele ainda luta contra o estereótipo de sua profissão.
— Não é porque surfo que só vou falar “brow” pra cá e pra lá. Mas é difícil as pessoas acreditarem nisso antes de me conhecer. Por esse motivo até entendo quando o presidente de uma empresa pede para me ver como orador antes de me contratar para uma palestra — conta Burle, que tem como fonte de inspiração Bernardinho, técnico da seleção brasileira de vôlei. — Ele é um grande exemplo pra mim. Admiro a forma como ele gerencia a carreira.
— Tive que ouvir de pessoas muito próximas que era vagabundo e marginal. Resolvi então sair das asas dos meus pais, em Recife, e vir para o Rio atrás do meu sonho — explica o pai de Iasmin, de 16 anos, e de Reno Kai, de 4, filho do seu atual casamento, com a paulista Lígia Moura. — Nessa época, o esporte se resumia a uma prancha. Hoje ficou bem mais complexo.
Depois de tantos anos, ele provou para os pais que podia ser um profissional de sucesso e hoje conquista, sem dificuldade, executivos de grandes empresas, por outro ainda enfrenta preconceito dentro do próprio meio.
 O tempo ensina muita coisa pra gente. Meus valores são outros e sinto que estou me transformando.

Por Roberta Salomone
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