Por Rosana Braga
Praticamente impossível não surgir ao menos um assunto incluindo o
tema “relacionamentos” numa rodinha de bate-papo, seja entre homens, mulheres
ou os dois juntos.
É de praxe falar sobre um casal conhecido, a própria relação ou sobre
causos ouvidos. Ou seja, a grande maioria das pessoas sempre tem uma opinião,
uma história ou uma experiência vivida que inclui afeto, amor, paixão e todos
os sentimentos conseqüentes.
Acontece que, cada vez mais, tenho tido a impressão de que o que se
fala não é exatamente o que se sente. Ou melhor, a maneira com que se tem
falado das situações que envolvem o coração é bem destoante do modo com que
se tem vivido os sentimentos.
A meu ver, temos maquiado nossas palavras e colocações a fim de
mostrá-las seguras, cheias de certezas, tão certas a ponto de tornarem-se
inflexíveis, ao menos aparentemente. Parece-me que estamos convencidos de que
precisamos provar que temos uma autoconfiança e uma auto-estima imbatíveis,
indestrutíveis, sobre-humanas talvez...
Mas estou certa de que a realidade não é bem essa! Na solidão de cada
quarto, no consolo de um ombro amigo, nas confissões feitas nos divãs e até
na busca esperançosa nos templos, igrejas e orações, fica evidente que há bem
pouca consistência nesta aparente perfeição.
Mais do que isso, a fragilidade e os intermináveis questionamentos que
rondam tantos corações estão gritando em cada relação vivida e até mesmo
naquelas não-vividas. A carência, o medo de sofrer, dúvidas sobre o que fazer
e como agir revelam o quanto o ego de tanta gente está bem maior do que sua
consciência.
Por quê? É... também me faço esta pergunta e não a encontro em
absoluto, pois felizmente não sou dona da verdade, mas suponho que elas têm
tentado – a todo custo – tão somente se defender. Entretanto, de tão
defendidas, de tão cheias de couraças, escudos e máscaras, terminam
subjugando sua essência e, portanto, se distanciando daquilo que realmente
sentem.
Creio que a autopercepção seja um bom primeiro passo. Observarmos
aquilo que estamos dizendo, pensando ou fazendo é uma maneira eficiente de
constatarmos o quanto nossas palavras têm estado desafinadas com o que
carregamos no peito.
Frases carregadas de prepotência, do tipo “eu sou assim e pronto”, “se
quiser, ele (ou ela) que mude de idéia”, “ninguém vai mandar em mim”, entre
outras, só servem para encorpar um orgulho que não nos preenche e nem nos
satisfaz.
Que a partir de agora, possamos admitir mais: “não sei”, “talvez eu
tenha mesmo que mudar de idéia”, “quem sabe eu esteja enganado?”, “estou
confuso, com medo, precisando de ajuda”...
E que assim, bem mais consistentemente humanos, possamos nos encontrar
num abraço maior que nossos próprios braços, que nos acolha não porque
parecemos sempre certos, mas porque somos sempre ‘gente’... e gente precisa
de afeto!
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